OPUS DISSONUS

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EDMUNDO VILLANI-CORTÊS - UM PASSEIO ESTILÍSTICO PELA MÚSICA BRASILEIRA

                                         


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Seu interesse pela música começou com o violão, que aprendeu de maneira intuitiva, iniciando seus estudos formais em música aos 17 anos. Formou-se em piano pelo Conservatório Brasileiro de Música em 1954. Sua atuação é intensa, tanto na área da música de concerto, como na de música popular.
                     Iniciou sua carreira profissional tocando piano na Orquestra Tamoio, do maestro Cipó, no Rio de Janeiro. Em 1965, integrou a orquestra de Luís Arruda Paes, com a qual atuou até 1967. Desenvolveu intensa atividade como arranjador.
                     Na década de 1960, trabalhou em gravadoras e em emissoras de TV, chegando a escrever mais de 600 arranjos para as orquestras da TV Tupi e TV Globo, do Rio de Janeiro.
                     Em 1968, fez arranjos e composições para o filme "O matador", de Amaro César e Egídio Ézio e nos anos 1970, trabalhou como arranjador na TV Tupi de São Paulo, realizando mais de mil orquestrações para músicas de vários gêneros.
                     Venceu o Concurso Noneto de Munique, Alemanha em 1978 e em 1986, obteve o primeiro lugar no Concurso de Composição da Editora Cultura Musical, com uma peça para violão intitulada "Choro pretensioso".
                     Foi regente da Oquestra Jazz Sinfônica do Estado de São Paulo, recebeu dois prêmios APCA, o primeiro em 1990, com a peça vocal "Ciclo Cecília Meirelles", e o segundo em 1995, com "Postais paulistanos".
                     Compôs várias obras de música orquestral, de câmara, de música instrumental e vocal, além de música eletroacústica.

OPUS DISSONUS - Como se deu seu primeiro contato com a arte de compor? O que o motivou a começar?
VILLANI-CÔRTES - Acho importante considerar que a minha formação musical não foi nada invejável, pois, aprendí a tocar cavaquinho num instrumento que ganhei quando tinha, aproximadamente, uns 12 anos de idade. O que aprendí foi adquerido atravéz da observação que fazia quando tinha a oportunidade de ver e ouvir alguem tocando. Algum tempo depois passei também a tocar violão num instrumento que meu irmão mais velho também tocava.
Só vim a ter contato com um pouco de teoria musical aos 17 anos, mais ou menos, quando passei a estudar piano (sem ter instrumento) na casa de uma de minhas tias.
Talvez possa dizer que uma das minhas primeiras manifestações no sentido da composição tenha sido uma pequena valsa que fiz, motivado pela perda de um amigo, companheiro de serenatas que faleceu de tuberculose.

OPUS DISSONUS - Como funciona seu processo composicional?
VILLANI-CÔRTES - Não saberia dizer se tenho um processo composicional específico, pois poderia talvez dizer que cada peça que faço tem uma motivação própria, uma razão específica para have-la feito,e, consequentemente uma estrutura não só formal, mas também melódica , ritmica e harmônica condizentes com o clima musical que procuro alcançar.

OPUS DISSONUS - Quais das suas obras podem, em sua opinião, serem consideradas como “introdutórias” ou ainda “obrigatórias” aos que querem conhecer melhor suas composições?
VILLANI-CÔRTES - o album " Dez Prelúdios Cinco Interlúdios para Piano" E. Villani-Côrtes, (email: estudio@estudiodois.com.br) e o cd "Luciana Hamond interpreta Villani-Côrtes"-prelúdios interlúdios e canções para piano solo, pode ser considerado um material expositivo de uma das facetas da minha criatividade musical,pois , como comentei no item anterior, cada peça que faço tem suas razões específicas pela sua existencia e, assim sendo , acho que todas as peças que já escrevi não foram feitas nem com a intenção de serem introdutórias ou, muito menos, obrigatórias.

OPUS DISSONUS - Qual ou quais compositores exerceram maior influência em suas obras desde as primeiras composições até hoje?
VILLANI-CÔRTES - Quando escrevo uma peça, procuro expor um estado de espírito, uma descrição ou uma impressão que um determinado acontecimento me causou, uma emoção estética que uma determinada sequencia harmônica , ritmica ou melódica me causou, enfim,.
Quando estou compondo uma peça procuro fazer aquilo que está o mais próximo possivel do meu eu, do meu gosto pessoal e, na medida que o meu talento me possibilita.

OPUS DISSONUS - Não parece ser um erro dizer que sua música transita entre a música popular e a erudita. Como o senhor define ou classifica suas composições?
VILLANI-CÔRTES - Como já comentei, minhas peças são o reflexo do que eu sou, da vida e das experiencias que tive e tenho e, como atuei durante uma boa parte da minha vida em diversas atividades musicais, tais como: Pianista de música popular, arranjador e compositor de trilhas para cinema, professor de improvisação ao piano, professor de contraponto e composição,etc, etc, acredito que tudo isto haja concorrido e participado do meu estilo composicional, direta ou indiretamente, consciente ou inconscientemente.

OPUS DISSONUS - Em sua Biografia o senhor menciona como professores dois rivais históricos da música Brasileira: Camargo Guarnieri e H. J. Koellreutter. Quais suas lembranças dos contatos com estes dois e como foi estar entre estes dois mundos composicionais tão diferentes naquele tempo?
VILLANI-CÔRTES - Acho muito interessante esta pergunta pois , na minha opinião, os dois foram pessoas muito significativas e aprendi muito, tanto com o grande compositor Camargo Guarnieri como com o Professor Koellreutter.Acho muito importante citar também o maestro Henrique Morelembaum, meu orientador durante o Mestrado em Composição que fiz na Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A todos estes Mestres tenho a agradecer os ensinamentos que me passaram, os quais só vieram ampliar o meu leque de informações não só pelos recursos técnicos que absorvi, mas também da experiencia de vida que dêles pude assimilar.

OPUS DISSONUS - Dentre suas obras existem várias com formações orquestrais. Qual o destaque que o senhor da para as grandes formas nas suas obras?
VILLANI-CÔRTES - Sempre , desde que, quando jovem, embora não tivesse nenhum estudo de música fui interessado pelas estruturas mais amplas. Costumava ouvir Sonatas, Sinfonias, dos compositores tradicionais e sempre tentava entender o que é que eles faziam para compor peças mais longas, e fui aos poucos percebendo como trabalhavam os temas, os recursos de contraponto, os fragmentos do tema, as modulações, as imitações, etc. e, dizia para mim mesmo: "acho que se eu quizer, também posso fazer uma sinfonia...é só eu ter disponibilidade e tempo..."
A minha 1a. Sinfonia foi escrita para Banda Sinfônica do Conservatório de Tatuí, estreiada com a Regencia do Maestro Dario Sotelo e está sendo objeto de estudo da Maestrina Mônica Giardini,como Tese de Doutorado pela USP.Esta peça tem também uma versão para Orquestra Sinfônica e uma versão para Dois Pianos. Desde sua estréia no Festival de Campos de Jordão em 1999, já tem tido várias apresentações nacionais e internacionais.
Citaria como exemplo de peças de mais fôlego : A Ópera "Poranduba"(em 3 atos)estreiada no Teatro Amazonas em 2007, "Te Deum", prêmio APCA em 2008, "Missa em Homenagem ao Padre José de Anchieta" por ocasião dos 450 anos da Cidade de S.Paulo, prêmio APCA em 2007,"Postais Paulistanos"(Suite Coral Sinfônica, enfocando 7 locais tradicionais da cidade de S. Paulo) ^prêmio APCA em 1995, etc.

OPUS DISSONUS - Como o senhor descreveria as suas sinfonias?
VILLANI-CÔRTES - Na verdade, as peças de mais fôlego exigem uma dose de concentração bem maior, pois além do trabalho de criação existe o trabalho de orquestração e da grafia que pede uma energia física e mental bastante significativapor causa do número de notas que precisam ser escritas com toda atenção.

OPUS DISSONUS - Com mais de 300 obras de diferentes formas e instrumentações no seu catálogo surge uma curiosidade: qual das formas musicais lhe é mais querida e qual não lhe interessa muito?
VILLANI-CÔRTES - Considero todas formas e estruturas composicionais importantes e , cada uma das minhas peças considero como se fossem filhos:"nehum é melhor nem mais bonito do que o outro"...

OPUS DISSONUS - Seu longo contato com a televisão facilitou ou dificultou a projeção de seu nome como compositor de música erudita/clássica?
VILLANI-CÔRTES - Durante o tempo que trabalhei como pianista e arranjador para a tv e gravadoras eu não podia me dar o luxo de recusar trabalho.Só pude me dedicar de uma maneira mais significativa e profunda à composição quando, aos 52 anos de idade fui convidado a lecionar na UNESP. Acredito que o importante é a qualidade do trabalho que define a maior ou menor projeção que alcançamos no âmbito profissional.

OPUS DISSONUS - Quais seus projetos para os próximos anos?
VILLANI-CÔRTES - Tentar dar conta das encomendas que já tenho para 2011.

OPUS DISSONUS - Em sua opinião, o que podemos esperar do futuro da música erudita?
VILLANI-CÔRTES - Acho que cada qual com seu talento, deve cumprir a sua missão com todo carinho , dedicação oferecendo de si , sempre o melhor.

OPUS DISSONUS - Quais são suas impressões acerca da mais nova geração de compositores? Você os conhece?
VILLANI-CÔRTES - Conheço alguns compositores de grande talento e sei que é muito dificil , pelo menos do que eu sei no Brasil, viver profissionalmente como compositor de música erudita.Como já comentei, só pude me dedicar á composição de uma maneira mais significativa a partir de quando passei a lecionar na UNESP.

OPUS DISSONUS - Quais palavras o senhor diria aos aspirantes a compositor?
VILLANI-CÔRTES - Tive uma experiencia muito gratificante, neste ano passado de 2010, quando completei 80 anos: foi um número muito grande de pessoas que tiveram (e têm) um carinho muito grande por mim, um número muito grande de intérpretes executando minhas peças com muito respeito e isto tudo me faz pensar que ser compositor pode não ser gratificante em alguns aspectos mas foi a melhor opção que fiz na minha vida.

OPUS DISSONUS - Considerações Finais:
VILLANI-CÔRTES - Muito grato e honrado com a atenção e o interesse do Prof. Cimirro pelo meu trabalho composicional e o de todos outros compositores responsáveis pelo crescimento do nosso acervo cultural.

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Edmundo Villani-Côrtes


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