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OPUS DISSONUS




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DE CHRISTOFORI A STUART – A EVOLUÇÃO DO PIANO

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Trezentos e onze anos após a primeira citação da criação de um piano por Bartolomeu Christofori (1655-1731) em 1700, o piano ainda passa por evoluções que por vezes não chegam ao conhecimento dos pianistas, e muito menos do público em geral.
                          O primeiro piano construído por Christofori ganhou o nome de Arpicembalo, mas a sua incrível capacidade de proporcionar ao intérprete a possibilidade de executar uma música com intensidades fracas e fortes (piano e forte no italiano) foi tão comentada que o instrumento acabou sendo conhecido como “aquele que faz piano e forte”, e assim obviamente o nome “Pianoforte” ficou, e o tempo se encarregou de abreviá-lo para apenas “Piano”.
                          No seu primeiro Arpicembalo (Piano), Christofori usou um teclado com 49 teclas (duas cordas por tecla), ou seja, exatamente quatro oitavas começando na nota “dó” (idêntico ao que encontramos hoje em pequenos teclados eletrônicos), e o instrumento já contava com efeitos que se aproximam muito dos obtidos hoje com os pedais do piano padrão de 88 teclas (uma, duas e três cordas por tecla dependendo da altura das notas – do graves aos agudos).
                          O molde utilizado era o mesmo do Cravo, instrumento muito difundido e amado pelos compositores até então. O Cravo, em geral, parece um piano de cauda, mas com a diferença que é bem menor, mais leve, e seu som é produzido por pinças que “beliscam” as cordas, ao contrário do piano onde martelos percutem as cordas fazendo assim com que a intensidade do toque influencie diretamente no som produzido.
                          O volume sonoro do primeiro piano também não era tão potente como o do piano atual devido a não utilização do mesmo tipo de material que encontramos na parte interna dos instrumentos de hoje.
                          Atualmente, a maioria dos pianos contam com três pedais:
                          O esquerdo conhecido como “una corda” é utilizado para diminuir a intensidade do som graças ao seu mecanismo que movimenta os martelos do piano alguns milímetros para o lado fazendo com que o mesmo percuta uma corda a menos do que o normal (no caso do piano de cauda) ou aproximando bastante os martelos das cortas (no caso dos pianos verticais)
                          O direito é o mais utilizado, pois remove todos os abafadores das cordas fazendo com que o som do piano seja levemente prolongado e ampliado pelas vibrações por simpatia que ocorrem entre as cordas cada vez que uma nota é executada.
                          O pedal central, também conhecido como “Sostenuto” nos pianos de cauda, remove os abafadores das notas que forem marcadas/executadas no momento que o pedal for pressionado mantendo os abafadores de todas as outras teclas. Trata-se de um efeito muito interessante, mas pouco usado em relação aos outros dois pedais. Nos pianos verticais o pedal central é apenas um abafador que coloca uma flanela entre os martelos e as cordas para que o som do piano seja abafado ao máximo, efeito interessante para os jovens estudantes.
                          O efeito do pedal “una corda” (esquerdo) podia ser encontrado já no primeiro Arpicembalo, com a diferença que não era um pedal, e sim um sistema manual parecido com os registros de órgãos de tubo usados ainda hoje. O mesmo ocorreu com os primeiros sistemas de remoção de abafadores (efeito do pedal direito) criados por Gottfried Silbermann (1683-1753) que foi responsável por várias mudanças/evoluções no mecanismo do piano, bem como, educador de uma série de futuros construtores de instrumentos musicais que viriam a contribuir de alguma forma na evolução do piano. Um de seus alunos, Domenico dal Mela, construiu em 1739 o primeiro piano vertical.
                          Em pouco tempo por questões práticas estes efeitos manuais foram substituídos por joelheiras localizadas logo abaixo do teclado, pois assim o pianista poderia utilizar-se dos efeitos sem precisar interromper a música em uma das mãos. Mozart chegou a experimentar estes pianos e fez grandes elogios aos atuais modelos.
                          Apenas a partir de 1772 as joelheiras começaram a ser trocadas por pedais, e as pesquisas nesta área por parte dos construtores de piano foi tamanha que uma série de pedais para efeitos especiais foram criados, imitando sinos, sons que lembram fagote, pizzicato de cordas, e inclusive efeitos inusitados como folhas que encostavam nas cordas para produzirem sons especiais, uma técnica que durante o meio do período modernista seria empregada por John Cage nas suas obras para o que conhecemos como “piano preparado”.
                          Em 1844 a empresa Boisselot and Sons apresentou o que veio a ser pelo próximo século a inovação nos pedais: o Pedal Sostenuto, que a partir de 1874 foi amplamente difundido nos pianos Steinway.
                          Internamente a evolução do piano foi muito maior do que o mencionado até agora, mas a necessidade de introduzir o público ao assunto de forma resumida se deve ao segundo nome mencionado no título: Stuart.
                          Os pianos Stuart & Sons são a grande evolução do piano no século XXI. Pouco conhecidos pela maioria, e ainda objetos de preconceitos devido a não aceitação de novidades por parte do mercado, os pianos de Wayne Stuart foram desenvolvidos com foco na evolução natural que este instrumento precisava e merecia. Com 102 teclas e 4 pedais, Stuart levou o piano aos seus limites possíveis sem com isso comprometer qualquer elemento natural do instrumento.
                          Stuart comenta que ainda seria possível construir um piano com 108 teclas, mas a escolha de 102 teclas pareceu mais sensata antes da criação das cordas mais resistentes que podem ser utilizadas agora. Desde o Arpicembalo com 37 teclas, este número foi aumentando gradualmente, tanto que, antes do modelo com 88 teclas por muito tempo se utilizou pianos com 85 teclas ou menos.
                          Modelos com 97 teclas já haviam sido construídos por Stuart, bem como por outras empresas como a Bosendorfer e seu modelo “Imperial”, mas a diferença na construção dos pianos de Stuart amplia não somente o número de teclas, mas os limites em relação a propagação do som e qualidade. Graças a utilização de materiais especiais e estudos aprofundados em relação a construção interna do instrumento, a capacidade sonora atinge limites maiores pois se mostram um grande desafio de controle para um intérprete, de modo que, facilmente um pianista amador (e as vezes até mesmo “profissionais”) ao experimentar o piano dizem que não gostam do mesmo pelo simples fato de não conseguir controlá-lo.
                          Mas o que significa todo este “controle” mencionado? Resumindo de maneira simples, a execução de sons fracos (piano) e fortes é ampliada de modo que uma pequena pressão nas teclas que não é percebida nos teclados de grandes pianos, como o famoso Steinway por exemplo, servem para produzir um som levíssimo e audível em qualquer posição de qualquer grande sala de concerto. Por outro lado, a massa sonora pode chegar a limites inacreditáveis se comparado aos pianos de concerto mais conhecidos, ou seja, para os pianistas se tornou enfim possível seguir literalmente as indicações que alguns compositores colocam nas partituras em forma de sinais como “FFFFF” ou “PPPPP”.
                          Os pedais seguem as mesmas funções encontradas no piano padrão, com a diferença que foram colocados lado a lado o pedal esquerdo do piano de cauda com o um sistema de pedal semelhante ao pedal esquerdo do piano vertical, aproximando os materlos das cordas, o que possibilita o extremo pianíssimo deste instrumento. Este novo pedal foi batizado de "dolce".
                          A exploração dos limites deste instrumento deve ser amplamente pesquisada pelos compositores uma vez que as notas dos extremos do piano não são meras oitavas adicionadas, e sim novos recursos sonoros para criação de efeitos através de seus harmônicos, vibrações por simpatia e por sua execução direta.
                          A construção destes pianos de 102 teclas ainda é recente, e graças a qualidade das cordas produzidas hoje podemos ver que o futuro bem próximo aponta para a criação de pianos com 108 teclas, onde teremos oito oitavas completas para cada tecla, começando em um dó abaixo do conhecido lá mais grave, até um si, acima do dó mais agudo.


Artur Cimirro
11/11/2011

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