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OPUS DISSONUS




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NO BERÇO DA MÚSICA OCIDENTAL

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Nomes pouco conhecidos do público hoje em dia, Ars Antiqua, Ars Nova e Ars Subtilior definem a música de um tempo onde os conceitos musicais influenciaram a composição de todo o futuro do ocidente.
                          Dentre a documentação existente da Ars Antiqua encontram-se os primeiros tratados músico-composicionais de Johannes de Garlandia, Franco de Cologne e “Anonimo IV”. Graças ao Anônimo IV sabemos da existência e nomes dos dois compositores mais antigos a serem lembrados até hoje, Léonin e Pérotin.
                          Léonin é o compositor mais antigo conhecido por nome, acredita-se que nasceu aproximadamente em 1150 e faleceu por volta de 1200. Sua obra, assim como a de Pérotin, encontra-se no “Magnus Lieber” (Magnus liber organi de graduali et antiphonario pro servitio divino) onde estão as composições (organa e conductus) criadas pelos representantes da chamada Escola de Notre-Dame. Acredita-se que viveu e trabalhou em Paris na Catedral de Notre-Dame e atrIbui-se a ele a criação dos Modos Rítmicos, que foram o primeiro passo em direção ao sistema de compassos ainda utilizado atualmente.
                          Pérotin, de acordo com os escritos de “Anônimo IV”, foi responsável por melhorar e expandir o trabalho de Léonin. Inovou compondo organa tripla e organa quádrupla. Suas datas de nascimento e morte são completamente desconhecidas, sabe-se que trabalhou pelo menos de 1190 até 1220.
                          Os outros dois nomes citados acima Franco de Cologne e Johannes de Garlandia parecem ter sido apenas teóricos e não lhes é atribuída nenhuma composição musical.
                          O Organum (singular de organa) é uma forma musical onde, através de regras arcaicas, cria-se uma melodia usando outra (um cantochão, geralmente um canto gregoriano) como base de acompanhamento, deixando as notas da melodia que acompanha, conhecida como cantus firmus, bem lentas enquanto a melodia nova floreia utilizando-se dos assim chamados modos rítmicos.

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                          Um maior desenvolvimento das técnicas da escrita musical, bem como a criação de novas formas musicais como o Madrigal, e o Moteto são as principais características do movimento conhecido como Ars Nova.
                          Philippe de Vitry (1291-1361), foi o pioneiro da Ars Nova. Amigo do poeta humanista Francesco Petrarca (1304-1374) que criara o Soneto, Vitry foi personagem muito influente em sua época, e é atribuído a ele a utilização da isorritmia, ou seja, ritmos repetidos, nos Motetos, forma musical da qual Vitry foi um mestre apesar de muito da sua obra ter se perdido no tempo restando hoje cerca de 14 Motetos apenas. Outro trabalho de Vitry que vale conhecer é o “Ars nova notandi” onde as técnicas composicionais da Ars Nova são pela segunda vez mencionadas, logo após o “Ars novae musicae” do teórico Johannes de Muris (1290-1355).
                          Guillaume de Machaut foi o principal e talvez mais importante compositor deste período. Machaut nasceu aproximadamente em 1300 e faleceu em 1377. Sua obra mais famosa “Messe pour Notre Dame” foi a primeira missa composta a 4 vozes e inaugurou uma nova era musical.
                          Machaut foi muito influenciado por Vitry, mas também pelas inovações do famoso trovador Adam de La Halle.
                          Das formas musicais deste período o Moteto (especialmente o isorritmico) é o mais desenvolvido e mais importante.

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                          Primeiro movimento que pode ser aproximado do nosso atual conceito de vanguarda, apesar de isso ser um erro grave se levado muito a sério, Ars Subtilior se caracteriza por utilizar-se de rítmicas e escritas mais complexas. A linguagem secular ganha um espaço bem maior e os compositores passam a fazer também experiências visuais nas partituras, coisa que voltaremos a encontrar em compositores atuais como por exemplo em Geroge Crumb (ver a obra Macrokosmos) ou em alguns outros raros compositores modernos. Em geral pode-se dizer que se tratava de música para músicos, ou para estudiosos.
                          O Compositor que melhor se destaca neste período é Baude Cordier (1380-1440). Cordier utilizou-se de vários recursos, incluindo cores, para designar rítmicas mais precisas, preocupação típica da chamada notação mensural que sucedeu a notação modal e que foi utilizada até o inicio de 1600 antes de ser substituída pela escrita padronizada atual.
                          Outros compositores que podemos citar são Anthonello e Philippus de Caserta, Jacob Senleches e Antonio Zacara da Teramo, sendo este último um bom representante da Ars Subtilior bem como do movimento conhecido “Trecento” e ainda do principio da Renascença.

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                          O movimento conhecido hoje como Trecento aconteceu na Itália (por isso as vezes é conhecido como “Ars Nova Italiano”), abrangeu todas as artes existentes, e pode-se dizer que, na música, foi a transição entre a Ars Nova e a primeira fase da Renascença. A música composta na Itália antes de 1330 foi quase completamente perdida, sendo o material existente datado de aproximadamente 1350 a 1420.
                          As formas musicais deste período foram fortemente influenciadas pelas músicas dos troubadors, sendo as duas mais disseminadas o Madrigal (a duas ou raramente a três vozes) e a Ballata (monofônica).
                          Francesco Landini (1325 ou1335 - 1397) foi sem dúvida o principal compositor deste período, sendo muito famoso ao longo do século XIV. De sua obra restou apenas parte da música secular que fez, apesar de ter composto música sacra de acordo com alguns escritos da época.
                          Outro compositor importante é Lorenzo da Firenze, sabe-se que faleceu entre o fim do ano de 1372 e início de 1373 e que pode ter sido professor de Landini, Lorenzo da Firenze apesar de ser considerado conservador foi um inovador na música, utilizando-se de técnicas composicionais como a imitação, texturas heterofônicas, cruzamento de vozes e até mesmo um pouco cromatismo, algo assustador se compararmos com a música dos movimentos anteriores.
                          Como regra geral, até então, o conceito de consonância e dissonância não haviam mudado, de modo que sons considerados consonantes eram aqueles formados apenas pelos intervalos de quinta, oitava e uníssono.
                          Outra curiosidade do movimento Trecento é a escrita de música instrumental, apesar de em número ainda pouco expressivo, já é possível encontrar músicas para instrumentos como Saltério, Organetto (precursor do órgão de tubos que conhecemos hoje), Alaúde, Viela, Flauta e Tompetes.

Artur Cimirro 07/01/11
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