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OPUS DISSONUS




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TRANSCRIÇÃO, ARRANJO OU PARÁFRASE?

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Dúvida freqüente entre os leigos, e pasmem, entre alguns músicos também. Não raramente algumas obras são confundidas e levam nomes/subtítulos que não condizem com a forma que possuem, mas para não desviarmos mais adiante do assunto principal, vamos manter o foco em transcrição, arranjo e paráfrase.
                          Há quem diga que usar o termo Transcrição é errado, pois seria este o ato de, por exemplo, passar de um papel para outro uma informação idêntica. O fato é que algumas transcrições são exatamente isso. E por isso são tão interessantes também. É uma ótima oportunidade para um instrumentista estudar, por exemplo, o colorido orquestral no piano.
                          Liszt trabalhou muito nesta linha quando transcreveu as 9 Sinfonias de Beethoven, a Sinfonia Fantástica de Berlioz, dentre outras. August Stradal foi talvez um dos que mais trabalharam em transcrições, apesar de esquecido (e já mencionado no texto dos aniversariantes esquecidos de 2010) suas transcrições de Liszt, Bruckner, Beethoven, Wagner, e especialmente Johann Sebastian Bach são dignas de aplausos e atenção de todos os estudantes e profissionais do piano.
                          Não raramente alguns (pseudo-?)músicos comentam que transcrições não são válidas, pois, se assim o fossem, os próprios compositores a teriam feito. Estes que comentam esquecem-se de pesquisar as obras de grandes compositores como Bach, Beethoven, Clementi, Chopin, etc onde eles encontrariam vários trabalhos de transcrição. Poucos sabem que Chopin fez transcrições, incluindo de uma obra de Paganini, assim como também de uma de suas próprias canções populares polonesas. Bach, por exemplo, transcreveu obras de Vivaldi, Marcello, Ernst e Telleman para cravo (BWV.972-987), de Clementi vale citar a transcrição do Kyrie do Réquiem de Mozart.
                          A transcrição sempre serviu para compositores como uma forma de estudar a composição alheia, enquanto para o intérprete serve como uma maneira de trilhar caminhos às vezes novos contribuindo assim para a criação de técnicas instrumentais mais avançadas e também dando idéias novas para os compositores atentos a estas mudanças.
                          Mas não necessariamente esta utilização de uma obra alheia precisa ser literal. Existem um sem-número de trabalhos que mantém a forma (esqueleto) original da música, mas que muda totalmente o seu invólucro. Eis então ai o trabalho conhecido como Arranjo.
                          Para quem quiser entender claramente o que significa ou como é este tipo de trabalho e quais diferenças entre arranjo e transcrição é aconselhável ouvir o arranjo de Leopold Godowsky sobre “O Cisne” de Camille Saint-Saens, e a mesma obra transcrita por Alexander Siloti.
                          A Paráfrase por outro lado, bem poderia ser chamada de fantasia, mas a existência deste termo como forma musical (mesmo aqui o termo forma sendo bem discutível) faz com que existam diferenças básicas.
                          Uma Paráfrase necessariamente altera a forma do original na qual ela se baseia. Liszt também foi um mestre nesta área e alguns de seus alunos como Tausig, Bulow, Rosenthal, Stradal, mostraram-se grandes também neste quesito. Mais recentemente Georges Cziffra, que era dono de uma técnica de improvisação fenomenal, dedicou um pouco do seu tempo a este trabalho, infelizmente não escreveu as partituras destas paráfrases, apenas as gravou em casa e em estúdios. E nesta última década Arcadi Volodos teve um sucesso grandioso com uma paráfrase sobre a Marcha Turca da Sonata No.11 (K.331) de W.A.Mozart que se transformou em uma obra típica de extras (“bis”) nos recitais de vários pianistas.
                          A Paráfrase é como uma nova composição, onde melodias provindas de outra(s) obra(s) ganham uma nova forma e ambientação sonora (e/ou harmonia).
                          Recomenda-se ouvir as paráfrases de Godowsky e Cziffra sobre operetas de Johann Strauss, sem dúvidas as melhores do gênero.

18 de outubro de 2010
Artur Cimirro

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