____________________________________________________

LEMBRANÇAS
____________________________________________________


Há quem nunca tenha se deparado com uma velha casa de pau a pique, ou mesmo de madeira? Casas corroídas pelo tempo, onde apenas o mato, insetos e animais as habitam.

Algumas guardam ainda vestígios humanos através de vasilhames de alimentos usados como, por exemplo, vasos de latas de banha, ainda com restos de flores que tentam desabrochar, na tentativa de sobreviver, independente da ausência de alimento e água.

Quantas vidas humanas ali existiram? Rancores e amores; brincadeiras e tédios; fome e fartura; crença e descrença; trabalho e descanso, vida e morte...

No portão, olhares vermelhos e úmidos davam adeus aos filhos que partiam; vesgueavam acompanhando-os na poeira da estrada, que sinuosa os escondia.

Filhos que não mais voltavam, ocupados que estavam com seus afazeres na cidade, e outros ainda que saiam dali em pequenos caixões de madeira, mortos por doenças não cuidadas.

Quantos viram o progresso chegar roubando-lhes suas árvores, seus animais e suas plantações, deixando em seus lugares apenas o concreto que desertifica?

Quantas agruras enraizadas nessas poucas taperas desafiam a ganância e a estupidez do homem?

Persistem e se sustentam através de heras e árvores enjauladas, como a provocar, incitando sentidos alheios a suporem que ali todo o amor e riso havia subsistido.

O amor e a felicidade fizeram ali suas moradas, deixando a tristeza para fora. São nutridas pelas sensações de outrora.


Nicete Campos (26.10.2017)



_______________________________________