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Baudelaire e os políticos maléficos
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Charles Baudelaire (1821-1867) em seu livro “As Flores do Mal” deixa propositalmente ou não, poemas que se confundem, em muitos aspectos, com a história da humanidade. Obviamente, os temas de qualquer autor costumam transmitir idéias e conceitos levando em consideração o momento histórico e cultural em que se vive.

Há muito tempo, pouca ou nenhuma produção literária há que possa ser comparada com as dos autores da antiguidade. Seja pelo tudo o que foi dito e continua atual, ou porque os poucos literatos consideráveis não sabem mais pensar e apenas dão nova forma para o velho pensamento que vão exaustivamente sendo elaborados com um único propósito que é o de servir como moeda de troca no mercado sujo em que se encontra a sociedade capitalista.

O que poderiam dizer os poetas de hoje? Apenas coisas amenas, ou se muito, ais de dores de sua própria vida. Diferente de Baudelaire que gritava para as massas as firulas que a todos incomodavam.

Exterminaram com os escritores que tomavam as dores do povo, e estes se renderam aos apelos dos políticos maléficos que, por bobagens de lustração de egos e capital para saciar sandices, rebaixaram-se a “escrivinhadores” do nada.

Baudelaire e outros tidos como “malditos”, apenas tentavam equilibrar a balança. O ser humano não é só bondade, aliás se assim fosse não veríamos e sentiríamos na pele toda sorte de tormento que diariamente nos assola. Eles procuravam o equilíbrio tão almejado pelos sábios, e hoje, nem isso procuramos mais. A sociedade capital forma seres imundos e desequilibrados, e dessa sociedade sai para nos governar justamente o que há de mais podre neste planeta. Maldita sociedade que idiotizou o mundo, deixando para os poucos pensantes a missão impossível de equilibrar o que não tem mais jeito.

Dentre os poemas de Baudelaire deixo aqui um dos para ser transmutado a bel prazer por algum leitor consciente:


O VERDUGO DE SI MESMO

Sem cólera hei de te atacar
Como um carniceiro e sem ódio!
Como o fez Moisés no episódio
Do rochedo – e de teu olhar,

Há de beber o meu Saara,
A água do sofrimento mansa.
Meu sonho cheio de esperança
No teu pranto como nadara!

Como uma nave que ao mar larga,
E em meu ébrio coração
Teus soluços ressoarão
Como um tambor rufando à carga!

Pois eu não sou um falso acorde
Nesta divina sinfonia,
Graças a voraz Ironia
Que me sacode e que me morde?

Ela em minha voz vocifera!
Todo meu sangue é este veneno!
Eu sou espelho tão terreno
Em que se contempla a megera!

Eu sou a chaga e o punhal
Eu sou o rosto e a bofetada!
A roda e a carne lacerada,
Carrasco e vítima afinal,

Sou vampiro de meu coração,
- Um desses mais abandonados
Ao riso eterno condenados
E que nunca mais sorrirão!

Charles Baudelaire – Flores do mal (Tradução: Pietro Nasseti)

Nicete Campos
15/7/2013


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