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A Paineira
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Aquela árvore grande (de 15 a 30 m de altura), que se sobressai quando colore de rosa ou branco o verde da mata, em meados de dezembro, prolongando-se até abril, se olhada de longe, pode-se deduzir de que se trata de uma paineira a esbanjar toda a sua beleza. De perto, pode-se constatar ou não se é essa exuberante espécie, caso em seu tronco cilíndrico e volumoso (de 80 a 120 cm de diâmetro), notar-se a casca rugosa e lotada de “largos espinhos”.

No Brasil a vemos em quase todos os lugares, mas sua ocorrência é facilitada nos Estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Norte do Paraná (floresta latifoliada semidecídua da bacia do Paraná).

Sua extraordinária beleza presta-se admiravelmente bem para o paisagismo de grandes jardins e praças. Excelente para plantios mistos em áreas degradadas de preservação permanente.

De aparência robusta, difícil imaginar que a Chorisia speciosa A.St.-Hil., da Família Bombacaceae, tem sua madeira leve, pouco resistente, mole, textura grossa e de baixa durabilidade. Mas é de uma generosidade ímpar, pois produz anualmente grande quantidade de sementes viáveis, que são amplamente disseminadas pelo vento, graças à sua fixação à paina, que outrora foi muito usada no enchimento de colchões e travesseiros. Também, sua madeira pode ser empregada na confecção de canoas, cochos, gamelas, cepas de tamanco, caixotaria e no fabrico de pasta celulósica.

Músicas e poesias foram e ainda são usadas através da sensibilidade artística de algumas pessoas que conseguem extrair desta magnífica espécie elementos singelos para homenageá-la. Aos amantes da flora é impossível passar por ela sem notá-la. Sua ampla copa florida, derrama suas grandes e vistosas flores pelo chão, como um tapete a cobrir as imperfeições do solo. Quando despida de suas folhas (agosto-setembro), a maturação dos frutos ocorre, e espontaneamente se abrem mostrando a brancura de suas plumas, que aos poucos vão caindo como algodões doces, para a alegria daqueles que em sua infância catavam-nas para que pudessem ser recobertas com pano, servindo-lhes de travesseiros e sonhos.

Jovens e crianças ficariam curiosos, e consequentemente poderiam aprender mais facilmente se educadores ambientais pudessem lhes proporcionar um pouco mais de assistência, auxiliando-os no resgate dos valores relacionados à ecologia. Governos, escolas e instituições em sua maioria, não investem em ações simples e eficazes. As ONGs ambientais ocupam cada vez mais espaços burocráticos, e pouco resultado prático se consegue. O meio ambiente é outra fonte de renda, usado pelos especuladores plantonistas, e os que não se interessam em participar deste esquema caótico, exatamente por não conjugarem da mesma filosofia egocêntrica, ficam à margem dos processos aparentemente ideológicos. Com isto, a simplicidade e a sabedoria popular, mas de cunho educativo, se restringe aos poucos que ainda acreditam que apenas se consegue trabalhar o conjunto idealizado, na solidão do ser só. A dificuldade de se promover uma educação ambiental consciente e equilibrada é enorme, restando apenas ao educador caminhar seus passos lentos, sem ilusão alguma de que encontrará subsídios e incentivos, já que ele não faz parte de esquema algum. Vários obstáculos ainda se somam a este caminhar solitário, pois os que vivem da natureza (vendendo-a e/ou promovendo-se) dificultam a ação dos bem intencionados, barrando-lhes a passagem.

Esta idéia paralela apareceu neste texto que tinha apenas a pretensão de falar de mais uma espécie da flora, e que, provavelmente, instigou a autora neste “desvio” pela constatação de que, apesar da abundância dessas árvores em frente a um local de intenso acesso, não percebeu uma pessoa sequer a contemplá-la.

Então, conhecimentos simples e didáticos são imprescindíveis no momento em que se resolve iniciar a educação dos demais. As chances de resultados certeiros aumentam ainda mais, quando a estes elementos, acrescentam-se o desprendimento e o amor pelo ambiente circundante. O desconhecimento, o descaso, a pressa frenética que está a mover o mundo moderno, é o que transtorna e desequilibra tudo.

Deixemos para os “experts” as nomenclaturas, características morfológicas, fenologia e tudo o mais que possa “complicar” o entendimento leigo, mas, que tenhamos uma pequena noção de algumas espécies para conseguirmos alguns intentos que são: compreensão, respeito, amor e preservação!

Sugere-se, por exemplo, começar com a historinha da paina do travesseiro, citando seus nomes populares, de acordo com a região em que se encontram: paineira, paineira-rosa, paineira-branca, árvore-de-paina, paina-de-seda, barriguda, árvore-de-lã, paneira-fêmea...

Nicete Campos
2/10/2009


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