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PSIU...
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No quieto do dia, na calada da noite, na surdina dos momentos, ele se introduziu mansamente.

Não foi uma introdução voluntária, mas sim ocasional. Aproveitou-se da solidão e do sofrimento do outro. De maneira egoísta, aproveitou-se dos seus próprios medos, que ínfimos diante de tantas amarguras que permeiam a existência humana, destruiu a verdadeira concepção do ser.

Na ilusão de uma sobrevida fácil e materialista não se conformava com sua exclusão dos meios que considerava serem os únicos ideais a serem alcançados.

Fama, poder, dinheiro! A vida não valia a pena ser vivida sem esses predicados...

Sabia que por si só jamais conseguiria alcançar seus objetivos, então, onde percebia um trampolim, por mais baixo que fosse, já era um começo. Ali colocava sua esperteza em forma de candura subserviente, utilizando-se das mais variadas máscaras comportamentais.

Sabia onde, como e quando usar de suas inspirações para comer suas migalhas primeiras, e assim que conseguia vislumbrar altitudes maiores, mergulhava conforme a profundidade da água, sem se importar com o estrago feito no trampolim anterior.

Obcecado, não se detinha para olhar as marcas de dor que deixava. Idéia fixa hipnotizava a próxima presa a ser esfolada.

A bem da verdade, vivia da sombra do outro, e, enquanto não conseguia ocupar seu lugar, não desistia. Para tanto, era fundamental sugar o sangue de sua vítima, deixando-a ressequida e sem defesa. Tinha paciência e a pressa nesse caso era inimiga da perfeição. Necessitava ter o controle total de sua presa. Serviço completo e bem feito era o que se gabava de saber fazer.

Ei! Psiu! E num estalar de dedos, eis que nova sombra vinha se juntar ao seu corpo insatisfeito. Tudo o que conseguia era pouco para sua fome insaciável. Queria tudo, sempre mais, e como costumava dizer, o céu não era o seu limite!

Foi fazendo coleção de sombras, de pessoas e de coisas. Transformou-se em uma massa disforme e irreconhecível. Deixou para trás corpos mutilados, perdidos e inanimados. Mas que importância havia nisso, se o que só importava era chegar no topo de seus torpes sonhos?

Nesta busca desvairada e insana, não reparou que algo dentro dele clamava por originalidade e pessoalidade. Que quanto mais se preenchia de coisas alheias e surrupiadas, mais deformado ficava.

Em vão a solidão atreveu-se a recuperá-lo. Não a solidão boa que descansa o ser do corre-corre da vida, mas aquela que faz um tremendo barulho dentro do silêncio profundo. Esperto, conseguia também ludibriá-la entorpecendo o corpo, deixando a alma vagar...

Outros alertas providenciais se fizeram presentes, mas ele os ignorou.

Vendera sua alma ao diabo, e nem por sonho pretendia comprá-la de volta. Não chegara ainda ao topo das ilusões desmedidas e da realidade efêmera.

Pobre coitado que acreditava ser a fama, o poder e o dinheiro únicos bens a serem desfrutados.

Caráter, honestidade, bondade, lealdade, companheirismo, verdade, e tantos outros predicados, estes sim deveriam ser bens a serem conquistados!

Ei! PSIU! Porque não trocou a ganância pelo AMOR? Assim sendo, não só o céu seria o seu limite, mas sim o infinito.

Nicete Campos
22/2/2006


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