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Jornalistas x Cientistas: uma relação complicada?
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A relação entre os profissionais do jornalismo e da ciência só é complicada quando a arrogância cede passagem ao egocentrismo. A grande maioria dos profissionais da ciência vive, principalmente, do reconhecimento dos seus pares, enquanto os restantes mortais vivem de ilusões globais, segmentadas de interesses diversos que vão desde um simples reconhecimento familiar, passando pelo reconhecimento dos seus pares, finalizando numa loucura total de status social e de gana insana e capitalista.

Consideradas as devidas exceções que toda regra impõe, podemos considerar um sacerdócio a profissão do cientista. A necessidade de concentração maior em experimentos e conclusões, exatamente porque dele dependem nossos avanços tecnológicos, em todas as áreas do conhecimento, faz com que opte por ser "deixado em paz". Some-se a isso a pressão que sofre por parte dos seus pares, dos órgãos de fomento altamente burocráticos, da falta de subsídios governamentais e privados, do acúmulo de funções que deve exercer dentro de uma universidade ou instituto de pesquisa e da falta de compreensão por parte da população como um todo, e pronto: eis aí um ser incompreendido e marginalizado, pronto para uma resposta negativa aos apelos que não considera de relevância.

Em contrapartida, há os que se propõem a uma maior abertura, no sentido de saírem de suas "masmorras", os que acreditam, que só através da divulgação popular dos seus trabalhos é que podem reverter, o lendário mistério criado em torno deles. No entanto acabam por verem frustradas suas intenções, única e exclusivamente pela ausência total da comunicabilidade. A produção de ciência e tecnologia é muito maior que sua divulgação. Quanta ciência é produzida sem que ao menos chegue ao conhecimento da população elitista? Se for considerar a população de nível precário sócio-culturalmente falando, nota-se que ao menos ela sabe o que é um cientista.

A relação cientista versus jornalista não é complicada desde que cada um desempenhe seu papel de maneira coesa, sem conflitos. O respeito mútuo deve existir. Para tanto, a iniciativa de fazer a ponte entre o trabalho científico e sua divulgação, cabe ao jornalista, pois não é dele a fama de viver entre as masmorras, e sim, do cientista.

O profissional divulgador, em primeiro plano, deve inteirar-se do que está sendo produzindo em ciência e tecnologia. As fontes devem ser questionadas. "Não se pode ficar refém das fontes" (1).

O que se vai divulgar deve ter precisão e coesão, do contrário, aumenta a aversão dos cientistas aos jornalistas, pois tendo uma cultura particular e peculiar, esses profissionais se constrangem, para não dizer se enfurecem, por uma exposição errônea.

O sensacionalismo, com raríssimas exceções, não pode ocupar espaço em uma matéria científica. Faz-se necessária uma postura elegante por parte do jornalista divulgador. Deve-se levar em conta que "o cientista, pelo menos em sua especialidade, é um entendido e o jornalista, na maioria das vezes, um generalista" (2), não querendo dizer com isso, que não se deva fazer a devida tradução dos termos técnicos científicos com precisão e eloqüência, mas também com a preocupação em não desvirtuar uma cultura na qual o cientista está inserido.

Há que se alcançar um denominador comum entre cientistas e jornalistas, e nesse caso, os meios justificam os fins. A sociedade beneficia-se dos avanços tecnológicos, mas também é sua mantenedora.

Jornalistas e cientistas são profissionais que têm em comum o tempero do sabor que edifica e dissemina, que são seus ideais. Partindo desse princípio, o que se pode concluir que, com um pouco de boa vontade e respeito mútuo, jornalistas x cientistas podem descomplicar a relação.

Notas
1)BUENO, Wilson da Costa, Comtexto, Curso a distância em Jornalismo Científico, promovido pela Comtexto Comunicação e Pesquisa, em outubro/novembro de 2004.
2)BUENO, Wilson da Costa, Comtexto, Curso a distância em Jornalismo Científico, promovido pela Comtexto Comunicação e Pesquisa, em outubro/novembro de 2004.


Nicete Campos
Julho 2005

Publicado em:
http://www.jornalismocientifico.com.br/revista/02/comunicacoes/comunica7.asp


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