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A política dos deslumbrados
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Como cachorro que corre atrás do carro, e quando o alcança não sabe o que fazer Como uma debutante em sua noite de gala que passa horas em frente ao espelho, ajeitando caras e bocas, os políticos que estão no poder perfilam-se em troca-trocas de roupagem, brilhantando os cabelos, empoando-se até aos dedões dos pés, gesticulando em ensaios de poses combinadas, gargarejando pigarros teimosos e apodrecidos.

Complicado se faz sair dos seus casulos, impossível abandonar o seio da mãe, irredutíveis se tornam ao tentar demovê-los para fora de seus umbigos.

Não prestaram a devida atenção em seus companheiros antecessores. Ignoraram as pedras de alerta que jogaram, quando se achavam os donos da verdade. Só queriam agitar sem ao menos questionar os porquês das suas selvagerias. Usaram meios lícitos e ilícitos na ânsia de crescer e aparecer. Instigaram os ingênuos, corromperam o leigo. Travestiram-se de anjos, os demônios! Por fim convenceram e venceram a todos com jatos vomitados de palavras pegajosas.

Como cachorro que corre atrás do carro, e quando o alcança não sabe o que fazer com ele, o mesmo se passa com essa gente traiçoeira e arrogante. Estão no poder, pretendem permanecer com o auxílio de milhares de almas que se compactuaram com o demônio.

Se o deslumbramento não os tivesse contagiado, poderiam ter aprendido (e muito), com os erros alheios, isto é, se, além disso, houvesse inteligência para tanto. Pois não há um ditado que diz “mais inteligente é aquele que, vendo os erros dos outros, jamais os praticará”?

Ah! Deslumbramento maldito! Cega, tapeia e depois morre.

Bem que poderia morrer antes da destruição dos inocentes. Poderia e deveria ser sepultado com seus detentores. Poderia como a Cinderela perder o sapatinho de cristal nem bem o baile haver começado. Mas diferentemente da fábula, príncipe algum teria chance de procurar sua amada através de coisa tão frágil. Afinal, cristal efêmero é de durabilidade parca, assim como cascas de ovos que se quebram, esparramam seu conteúdo, ou fazem nascer pintos, que se crescerem terão que voar em freguesia alheia, ou servir de comida para outros mentirosos sagazes.



Nicete Campos
18/2/2005


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