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O Namorador de Araucárias
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Homem bonito de gestos elegantes. Humilde na fala mansa, mas tenaz e contundente. Cabelos brancos, olhar brilhante, passos certos pelas ruas da cidade, moleque saltitante nas estradas empoeiradas.

Andava agora de flerte, ou o amor por elas havia nascido com ele? E a paixão, fogo ardente que cresce a chama, mas logo se desfaz, fez morada para sempre em seu peito?

Embevecido procurava por todas sem se importar se era dia ou se era noite, se chovia ou fazia sol. Muito menos a distância que deveria percorrer para encontrá-las lhe tirava o ânimo. Ao contrário, impulsionava-o ainda mais.

Sabia muito a respeito delas, mas ainda era pouco. Queria tê-las ao seu lado sem o egoísmo do tesouro guardado que ninguém vê. Apenas, e tão somente lhe interessava saber que muitas delas poderiam ficar próximas de todos, esbanjando beleza e sensualidade, ternura e capacidade.

Namorador incansável, amante apaixonado, amigo de todas as horas, chorava um pranto desolado por vê-las sumindo, escapando-lhe por entre os dedos.

Percorreu campos e vales e a cada uma que encontrava, presenteava-a com um sorriso de menino encantado. Com um gesto de mão carinhosa prometia que a faria reinar em seu mundo desencantado. Despedia-se com um até breve, e o cérebro punha-se a instigar-lhe.

A maratona não terminava, mas isso era o que menos importava, afinal, traçou planos e para concretizá-los era só uma questão de tempo e perseverança.

Caminha agora mais alegre do que nunca. Valeu amar incondicionalmente, despudoradamente, coletivamente...

No Brasão de sua cidade querida, as cinco araucárias angustifólia (pinheiro-brasileiro) imponentes e simples como ele, mas nas mãos e no coração a certeza de trazê-las para perto de todos.

Homem guerreiro, menino de doces palavras, coração de leão que vela as amadas!

A certeza da missão cumprida não o desvia do fim. Sempre amará e protegerá aquelas que sempre flertou com ternura. Como recompensa, elas enfeitarão com pinhões os lugares por onde o homem bonito tiver que passar.

Nota da autora: O texto acima refere-se ao digníssimo Dr. Nélson Maffei que empenhou-se exaustivamente em resgatar o maior símbolo da cidade de São Carlos que é a Araucária, árvore nativa que por pouco não se extingue de nossa cidade, não fosse sua intervenção. Aproveito-me ainda para parabenizá-lo pelo recebimento do Prêmio “Chico Mendes do Meio Ambiente 2004”, que não poderia, na minha concepção, ser mais bem outorgado.



Nicete Campos
8/6/2004


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