____________________________________________________

Farrapo Humano
____________________________________________________


Jurou que não mais se apaixonaria, e que ao menos prestaria atenção nas propostas que certamente viriam em forma disfarçada de mentiras encolhidas e sórdidas. A bem da verdade, sabia tudo antes, previa com maestria o que aconteceria à ela se sucumbisse aos apelos bobos da solidão.

É como eu digo...antes só que mal acompanhada!

Jargão primoroso e sábio, então para que fingir sua validade se em toda a sua vida o dito lhe provara ser certo e verdadeiro?

Muniu-se de máscaras variadas, e na lida do dia-a-dia cansou-se de trocá-las. Mudou de lugar tantas vezes quanto lhe foi possível. Procurou em outros horizontes novas formas de relacionamentos. Tudo em vão! A mentira não escolhe lugar e data, e sua presença se faz em toda a ocasião, pois não é assim que age o ladrão?

Desesperou-se com o fim da ilusão.

A esperança, menina...presta bem atenção, é a última que morre!

Ilusão é sinônimo de esperança? Ao menos para o ego é uma excelente desculpa, e daquelas bem esfarrapadas ainda!

De novo a mentira, sempre ela a intrometer-se, a esgueirar-se por todos os cantos, fazendo lembrar os vertebrados articulados, que basta uma frestinha de porta, e ei-los ali, a conviver prazerosamente na companhia de todos.

Apesar da consciência e da frieza com que sempre encarara o ser humano, deixou-se enredar, caiu nas teias finas, mas fortes da ignomínia mentiresca. Sofria já que previa cada passo da sua arque-inimiga. Pensou pela última vez que numa hipótese bastante remota, poderia derrotá-la. Que nada! Teve que sofrer de novo todas as agruras da vida, até se deixar abater por ela: a MENTIRA!

Caminha agora o farrapo humano. Irá deixando na trilha de sua vida, pedaços ensopados de amargor e descrença, restos ensebados de tristeza e dor.



Nicete Campos
7/3/2004


_______________________________________