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USP 70 anos: Entre mortos e feridos
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Parabenizar? Lastimar? As duas coisas...

Negar que em 70 anos a Universidade de São Paulo projetou o Brasil de maneira ímpar e heróica, no mínimo é sucumbir à ignorância total dos feitos realizados por essa instituição que tanto orgulho nos proporciona.

Poderia ser melhor? Acredito que sim, pois quem foi que disse que marketing não faz a cama?

Recursos para isso até que teria, mas os docentes que aí trabalham, quase que em sua totalidade, são pessoas voltadas para o desenvolvimento de projetos de pesquisas, orientação de alunos de graduação e pós-graduação, serviço de extensão à comunidade, ensino, cargos burocráticos, solicitação de verba governamental, prestação de contas e relatórios periódicos extensos, participações em congressos nacionais e internacionais, seminários, workshops, reuniões de cunho científico ou burocrático, e como se tudo isso já não bastasse para ocupar suas 24 horas por dia, ainda enfrentam o descaso de uma sociedade ignorante, no sentido mais puro da palavra, exatamente por não conseguirem alardear seus conhecimentos que melhoram e transformam essa mesma sociedade.

A propaganda é alma do negócio, mas não devemos nos esquecer que essa é apenas uma das muitas faculdades formadoras de indivíduos que fazem parte dessa instituição, não querendo dizer com isso que ela se beneficia do que faz através desse departamento.

Outro entrave existente, e talvez decorrente dessa falta de informação à população, é o descaso dos nossos governantes em equipar mais e melhor os laboratórios de ensino e de pesquisa. Sem contar os problemas de infra-estrutura que vão desde salas minúsculas, muitas vezes separadas por biombos para acomodar os pesquisadores, cadeiras quebradas, material de consumo escasso, laboratórios precários e ultrapassados, ainda contam com pesquisas paralisadas por falta de matéria prima e/ou pessoal de apoio e/ou equipamento danificado e etc. Isso é só para exemplificar, pois, se formos fazer aqui uma relação de todas os problemas existentes, iríamos constatar que esses pesquisadores são verdadeiros heróis. Os salários para pessoas tão expressivas, âncoras de um país que sobrevive dos seus cérebros, são ridículos. Não é à toa que o Brasil é conhecido como o país do carnaval e do futebol. As inversões de valores a cada dia que passa crescem e se fortalecem.

Lastimar o quê? O medo da sombra que a ignorância acoberta?

Parabéns USP pelos 70 anos? Sim, parabéns por estar ferida de morte e mesmo assim continuar lutando por seus ideais.



Nicete Campos
25/1/2004


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