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Ética em extinção
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Em teoria as leis que regem nosso país até que não são tão ruins assim. O uso e abuso que fazem delas é que chegam a nausear. Ao longo do tempo passamos do estado de pasmos para o da indiferença. Acostumamo-nos até a sorrir e fazer troça de algumas leis que, se fossem levadas ao pé da letra, fariam com que nos sentíssemos orgulhosos por contarmos aqui no Brasil – sim, aqui mesmo, com cérebros privilegiados em coerência, retidão e espírito cívico elevado.

Acontece que o bendito ou maldito (não consegui ainda me posicionar), jeitinho brasileiro, é tão arraigado que até penso que ele já entrou na genética humana. É um tal de barganhar daqui e dali que faz com que questionemos se realmente o mundo não deva sucumbir em nos aceitar como sendo o povo mais inventivo desse planeta.

Exemplos de “jogo de cintura” são incontáveis; alguns passando das devidas proporções, chegando até aos mais hilários – quando obviamente não somos os enredados na história.

Uma que considero pitoresca, para não dizer anti-ética, aconteceu na cidade de Itirapina (SP), que, com olhos vistos para a região que a compõe, copiou de tantos outros lugares, uma maneira interessante de colocar as finanças em dia.

No jornal Itirapina Agora – Informativo Mensal da Prefeitura Municipal dessa cidade, em sua edição de Agosto de 2003 (número 6, pg 6), encontra-se a coluna “Fique por dentro...”. Essa coluna, pelo que se pôde observar, pretende levar informações, prestação de contas referentes aos trabalhos desenvolvidos pelas secretarias, e também algumas dicas de como a população pode estar interagindo com a Prefeitura em relação ao pagamento de suas dívidas.

Dentre tantas “informações”, a que mais me chamou a atenção foi aquela colocada como item 3, que transcrevo aqui, a título de “curiosidade”: “Todos os carros com placas de Itirapina podem entrar de graça na represa do Broa, qualquer dia e qualquer hora da semana. Mas só para quem tem placa de Itirapina. Quem tem carro com placa de outra cidade, basta transferir para ser beneficiado”.

Até terminar a frase “Mas só para quem tem placa de Itirapina”, não consegui ver problemas éticos, apenas politiqueiros. Mas, a frase subseqüente me deixou pasmada pela inexistência ética e pela afronta do apelo acintoso.

Não somos ingênuos, sabemos que esse tipo de coisa é comum em nosso país. Agora, sair alardeando propostas indiretas e indecentes como essa, no mínimo é contribuir para a extinção total da ética que deveria reger pessoas de bem e que ocupam posições de destaque e comando de uma cidade.

Como diria Boris Casoy – “Isso é uma vergonha!”



Nicete Campos
29/12/2003


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