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Antidoping para ricos e olhos que vêem
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O ditado popular “o que os olhos não vêem o coração não sente”, com certeza não se aplica quando o assunto se trata de dependência química.

Na edição 272 - ago/03 da Revista Época, foi publicada uma matéria sobre um detector de drogas caseiro - o drugwipe, que começa a ser vendido neste mês nas farmácias de todo o país. Inventado na Alemanha em 1997, o drugwipe ficou popular em vários países porque possibilita aos pais fiscalizar o filho sem que ele saiba.

Sua produção anual é de 500 mil unidades, e sua eficácia é próxima de 100% segundo a DEA - Agência Nacional Antidrogas do Departamento de Justiça dos Estados Unidos. Países como Inglaterra, Alemanha e França usam o detector junto com o bafômetro para checar o estado físico dos motoristas.

Escolas americanas e européias adotaram programas antidrogas a partir de seu uso. “Elas conjugam palestras e atividades educacionais com testes para verificar quem está trazendo o tóxico para dentro da escola”, conta Linaldo Pimentel, diretor da SecureTech, empresa alemã fabricante do aparelho.

O detector de drogas caseiro funciona da seguinte maneira: é só passá-lo na pele da pessoa ou numa superfície com a qual ela tenha tido muito contato (telefone, mouse de computador, alça de bolsa ou roupa suada).

Equipado com anticorpos específicos para cada tipo de droga, o teste aponta a presença de quantidades mínimas da substância: seu visor vai ficando cada vez mais avermelhado. O resultado aparece em dois minutos e o aparelho verifica o consumo de drogas em um prazo de até cinco dias.

Há quatro versões que detectam diferentes tipos de droga: maconha e derivados como haxixe; opiáceos como morfina e heroína; cocaína em todas as formas - pó, pastas, crack -, e o grupo das anfetaminas, que inclui o ecstasy.

Os quatro tipos serão vendidos por US$13 cada. Uma quinta versão, que conjuga testes para anfetaminas e cocaína, custará cerca de US$16. Como cada detector só pode ser utilizado uma vez, o custo é alto.

Apesar de tê-lo aprovado em testes, a polícia brasileira não vai usá-lo nas ruas. O controle ficará mesmo por conta das famílias. “É um recurso que permitirá aos pais perceber prematuramente o problema para combatê-lo”, diz o toxicologista Otávio Brasil. “É arriscado, porque tanto pode ser usado dentro de um programa de prevenção como servir de instrumento de perseguição”, diz o médico Arthur Guerra de Andrade. “Servir como instrumento de perseguição”... Essa frase, sob meu ponto de vista, está fora de contexto. Há quanto tempo as drogas perseguem nossa sociedade? Não é com preocupações psico-pedagógicas cheias de melindres que conseguiremos evitar que nossos filhos se enredem por um caminho que praticamente não tem volta. Há que se cortar o mal pela raiz. Em relação a educação de filhos sempre usarei a frase: Piaget sim, mas com uma pitada de Pinochet!

Outro aspecto da matéria em questão que me faz arrepiar, é sobre o trecho “a polícia brasileira não vai usá-lo nas ruas. O controle ficará mesmo por conta das famílias”. Que famílias? As poucas com algum poder aquisitivo, e ainda por cima, uma maioria que se faz de cega, surda e muda? E esse governo infeliz e egocêntrico que só sabe olhar para o próprio umbigo, que deixa à mercê dos espertalhões traficantes, todo um povo sem educação e sem história, que se enreda facilmente em armadilhas mais simples que ratoeiras?

Esses politiqueiros sabem lançar mão de qualquer lei arcaica e arbitrária, quando se trata de defender interesses escusos e/ou partidários e/ou egoísta. Gastam horrores dos cofres públicos para propagandear ações inócuas com o intuito de se auto promoverem, mas quando o assunto é prevenção e controle para que possamos ter um vislumbre de erradicação da pior praga já existente em nosso meio ( ao menos em relação às nossas crianças), agem como Pôncio Pilatos, lavam as mãos.



Nicete Campos
07/08/2003


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