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Advogando em causa própria
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A greve que irá envolver juízes estaduais, trabalhistas e militares, entre os próximos dias 5 e 12 de agosto, em protesto contra a reforma da Previdência, nos leva à reflexão de que nem tudo está perdido.

Apesar da incoerência do ato, pois não há instância acima da deles hierarquicamente falando, para que se faça um julgamento sobre a legalidade ou não dessa greve, há também o reverso da medalha.

Sim, há males que vem para o bem, pois quando se trata de uma greve de razões primárias, como por exemplo, um teto para morar, uma terra para garantir o sustento de muita gente, de uma greve onde pessoas se unem para reivindicar maneiras mais dignas de sobrevivência, a truculência impera e faz sentir seu “chicote”, deixando as classes desprovidas de sabedoria à deriva.

Penso que os senhores magistrados podem estar nos dando uma grande lição de como devemos proceder para que alcancemos nossos objetivos. Em primeiro lugar deve-se buscar uma organização ímpar, onde a divulgação em massa da data de início e término de uma greve seja anunciada com bastante antecedência para que os serviços essenciais não sejam prejudicados durante o período em que houver a paralisação, e, para que essa greve tenha méritos, deverá ser pelo motivo maior que nos impulsiona a ir à luta: o grande salário percebido mensalmente. Qualquer outro tipo de greve, como por exemplo, a de melhores condições de trabalho, é perda de tempo.

Aprendiz de sociedade capitalista só enxerga ganhos em formato de moeda vigente. Não aprendeu ainda que a melhor forma de ganhar não é aquela em que tanto está habituada, ou seja, a do egoísmo e do egocentrismo, mas sim, daquela em que um todo é beneficiado.

Enquanto a lição de casa vai sendo lentamente assimilada, o melhor que temos a fazer é ficarmos ruminando a má sorte de que, e apesar de termos nascido num país maravilhoso levando em consideração seus aspectos naturais, em contrapartida devemos imitar nossas manadas que não digerem sua alimentação, ruminando o mesmo prato de sempre, que vivem a enfiar goela abaixo. Parabéns, senhores do judiciário!

Pena que nossos salários não nos deixam margem para sermos tão eficazes e previdentes. Afinal de contas, ter que conviver com a fome e com o frio há tanto tempo a nós impostos (aqui há um trocadilho), acabou por nos deixar lentos no raciocínio e sem nenhuma chance para programar absolutamente nada.

Acabamos por enfiar os pés pelas mãos por total falta de capacidade mental. Se, algum dia nos depararmos frente a frente, nós como réus acéfalos, e os senhores como juízes, baseados nas circunstâncias inerentes a nossa vontade (fome e frio) terão complacência para nos arbitrar a pena mínima?

Devo lembrar que quem advoga em causa própria, deverá estar apto o suficiente para julgar o outro.



Nicete Campos
31/7/2003


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